terça-feira, 26 de novembro de 2013

Aula aberta com o jornalista e escritor Roberto Sander

Hoje a FACHA recebe o jornalista e escritor Roberto Sander, autor do livro 1964 - O verão do Golpe, que será lançado ainda esse mês. A aula aberta acontece no campus Botafogo, sala 27 às 19 horas. Esperamos vocês!


Sinopse do livro:

"A sensualidade de Brigitte Bardot, a bossa nova de Nara Leão; o balanço de Jorge Ben; o cinema novo de Gláuber Rocha; as primeiras pranchas de fibra de vidro no arpoador; e, pelo mundo, grandes movimentos libertários. Paradoxalmente, nesse contexto de grandes novidades culturais, estava sendo germinado o movimento civil-militar que acabaria com a democracia no Brasil. A partir desse original ponto de vista, no livro "1964 - O verão do Golpe", o jornalista Roberto Sander recria toda a atmosfera dos três meses que antecederam o 31 de março que mudaria a nossa história no século passado. Com uma narrativa ágil e rica em detalhes, fruto de uma pesquisa de cinco anos, o autor transportará o leitor para o dia- a-dia (os capítulos são divididos em semanas) desse momento chave ocorrido há exatos 50 anos. O prefácio é do jornalista Geneton Moraes Neto e a revisão histórica e texto de orelha do cientista político Eduardo Heleno, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF)."

domingo, 10 de novembro de 2013

Golpe ou Revolução?


Imagem (puramente ilustrativa): reprodução site "Me explica"


De 1964 para 2013, muitas coisas aconteceram, muitos fatos foram revelados e comprovados e partir daí já está indo para meio século de história, mas passam anos e meses, o acontecimento é contado e recontado de várias maneiras, porém nunca definido, afinal mil novecentos e sessenta e quatro foi um golpe ou uma revolução? A partir dos depoimentos exemplificados abaixo, vídeos que assistirão e como os fatos ocorridos foram representados, chegaremos a uma só resposta onde cada um é preciso desvendá-lo para obter uma conclusão.

Abaixo temos dois depoimentos, de um lado quem sofreu com o movimento (Deputado Federal Chico Lopes) e de outro quem praticou (General do Exército Francisco Batista Torres de Melo), perceba como cada um relata o momento e como cada um defende o assunto escrito nos livros didáticos:
  • Até hoje ainda existem discórdias quanto à época, já que militares têm o período como uma Revolução e todos os torturados e presos políticos que sofreram são unânimes em afirmar: 1964 “Foi um golpe dos mais violentos, os livros estão certos. Se fosse uma revolução os dois lados teriam tido armas”, protestou Chico.
  • A maioria dos livros didáticos de História do Brasil trata o Movimento de 1964 como o Golpe Militar que destronou a democracia do país empossando militares no comando da nação. O enfoque desagrada a militares que vivenciaram a época: “Eles (os livros) tratam assim para encobrir a verdade”, destacou o general de Divisão Reformado do Exército, Francisco Batista Torres de Melo.
Como as pessoas viam esse período, buscamos através de outros relatos, pessoas que não eram envolvidas com nenhum meio político, nem militar se sentiram no meio desse turbilhão de repressão, ordens e censuras.

Opiniões de populares

» Ernani Araripe, 73 anos, aposentado. “Na época da Ditadura havia muita perseguição, ninguém passeava ou se sentava nas calçadas para conversar. Na época eu trabalhava na 10ª Região e os meus colegas de trabalho não podiam ouvir falar em revolução a que saiam todos correndo”.

» José Eduardo, 72 anos, aposentado. “Durante a Ditadura qualquer grupo de cinco pessoas era considerado multidão e, portanto, não podiam ficar todos juntos. Caso acontecesse, os militares logo apareciam para afastar um dos outros. Existia muita ordem, mas as pessoas não respeitavam quem estava à frente. Elas temiam o que é muito diferente”.

» José Pedro Rodrigues, 72 anos, aposentado. “É bem verdade que não tínhamos a liberdade de conversar na rua com os amigos, pois já era considerada conspiração. Lembro que falavam bastante que os militares viam algumas pessoas juntas atiravam e depois perguntavam o que estava acontecendo e em que eles acabaram de atirar”.

» Oscar Moreira, 68 anos, aposentado. “Na ditadura as coisas eram bem melhor do que hoje. Era difícil, pois as pessoas viviam constantemente com medo, mas como eu trabalhava em um Banco vi a Ditadura pelo lado positivo. Na época havia um crescimento melhor, pelo menos era o que percebíamos. A melhor coisa da Ditadura era que não havia assaltos, era mais seguro”.

Realidade de um período onde muita gente se pudesse não retornaria, vejamos a história de D.Ilda Martins, esposa de um militante passou e pagou sem ter feito nada.



Um breve resumo do que foi 1964:




Por: Caroline Lourenço

Documentando o Golpe

Cinema Brasileiro e o Resgate da Memória Nacional

Será só em 2014, mas os 50 anos do Golpe Militar de 64 já movimentam o mundo cinematográfico brasileiro. Em função do meio século do golpe, ainda em 2013, vários projetos vêm surgindo para resgatar a memória brasileira e levantar questionamentos sobre esse importante capítulo da história do nosso país, como o blog ‘50 anos de 64’, por exemplo. Apenas em março desse ano foram lançados dois documentários abordando o tema “O Dia que Durou 21 anos” de Camilo Tavares e “1964 – Um Golpe Contra o Brasil” de Alípio Freire.

“O Dia que Durou 21 anos” de Camilo Tavares

O documentário, lançado em março de 2013, revela como os Estados Unidos colaboraram para o golpe militar de 1964, que derrubou o presidente brasileiro João Goulart, com base em documentos sigilosos de arquivos norte-americanos e áudios originais da Casa Branca como conversas dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson com assessores sobre o Brasil e de Harvard Lincoln Gordon, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil no início dos anos 1960.

Em entrevista à Carta Maior Camilo Tavares diz que o grande desafio ouvir a voz dos militares como o Ministro Jarbas Passarinho, General Newton Cruz, Almirante Bierrenbach e também dos militares que apoiavam João Goulart, como Capitão Ivan Proença e o Brigadeiro Rui Moreira Lima. Na mesma entrevista sobre a participação ativa dos presidentes norte-americanos no golpe o cineasta afirma o pouco conhecimento da população sobre o assunto afirma que esse foi um dos objetivos do filme:

“Nossa meta é que o filme que teve patrocínio do Ministério da Cultura e da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, via Eletrobras, Sabesp e Cesp, seja distribuído na rede de ensino público com foco no público jovem que precisa conhecer melhor nossa história. E também do público adulto em geral que viveu a ditadura militar mas não conhece a dimensão dos interesses dos EUA em nosso país.”

Veja o trailer:



“1964 – Um Golpe Contra o Brasil” de Alípio Freire

O longa do diretor Alípio Freire, também lançado em março de 2013, traz entrevistas, fotos e imagens de arquivos do período entre a campanha de Jânio à presidência e a posse de Castelo Branco. Na ocasião do lançado, Alípio deu a seguinte declaração ao jornal O Globo:

“A ideia era recuperar a história do país no período pós (Segunda) guerra, especificamente na ocasião do golpe de 64, uma ideia antiga. Eu e um grupo de amigos fundamos uma ONG, o Núcleo de Preservação da Memória Política, para trabalhar essas questões. No ano passado, conversamos sobre os 50 anos do golpe, em 2014. No meio dessa discussão, tivemos a criação da Comissão da Verdade, novidades sobre crimes cometidos por agentes da ditadura. Desde a criação do núcleo somos chamados para realizar debates em universidades, centros culturais, grupos de jovens, organizações de trabalhadores e sindicatos. Percebemos que, para muitos, principalmente os mais jovens, não há uma clareza do que foi o golpe e porque se resistiu a ele. Daí a ideia de se fazer o documentário.”

O filme foi publicado no Youtube em duas versões, completa e dividida em 10 capítulos, pelo Núcleo de Preservação da Memória Política e a Televisão dos Trabalhadores. Assista ao documentário completo clicando no link: http://www.youtube.com/watch?v=jXUYZQWD-fg

Outros documentários importantes sobre a ditadura militar são contrapontos à versão oficial desses acontecimentos. Abaixo segue uma pequena lista com links do material disponível na web:

“Jango” de Silvio Tendler . O filme de 1984 conta a trajetória do presidente João Goulart – o Jango.



“Dossiê Jango” de Paulo Henrique Fontenelle. Lançado em 2013, o filme se debruça sobre o exílio do presidente Goulart, e investiga sua morte na Argentina.



“Em nome da Segurança Nacional” de Renato Tapajós. O filme de 1983 registra as sessões do Tribunal de Tiradentes, do mesmo ano, para “julgar” a Lei de Segurança Nacional, de 1967, que tornava todos os cidadãos responsáveis pela segurança do país. http://blip.tv/armazm-memria-videoteca-da-luta-pela-terra-2/em-nome-da-seguran%C3%A7a-nacional-2349852

“O fim do Esquecimento” de Renato Tapajós. O documentário de média-metragem, de 2013, procura personagens que participaram do Tribunal Tiradentes e outros que se destacaram na luta pelos Direitos Humanos, para retomar a questão da Doutrina de Segurança Nacional.



Por: Alyne Rangel

O Apoio da Igreja Católica ao Golpe de 64

A Igreja Católica sempre exerceu historicamente uma influência no pensamento social,político e ideológico brasileiro. Desde a sua descoberta, O Brasil possui uma ligação muito forte com o Catolicismo e sempre guiou seus passos. Com o Golpe de 64 não seria diferente.

Foi em 19 de março de 1964 que se reuniu mais de 500 mil pessoas na cidade de São Paulo para realizar a “Marcha da Família com Deus Pela Liberdade”. Elas tinham dois objetivos: Lutar contra a ameaça comunista e também tirar do poder o então presidente da época Jango. Segundo seus organizadores,a marcha foi um repúdio ao comício da Central do Brasil, realizado no Rio de Janeiro em 13 de março de 1964.Neste ato Jango havia anunciado seu programa de Reformas de Base.


Para o Clero brasileiro e seus seguidores,a grande instabilidade política que o Brasil passava em 1964 podia se agravar mais com a continuação de Jango no poder.Também eles temiam que o País seguisse os passos de Cuba,lugar que seguiu o ideal comunista.Com isso,eles apoiaram o golpe de 64 e ficaram ao lado dos militares.



Em maio de 1964,um mês após o golpe,26 Bispos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) assinaram um manifesto em que agradeciam aos militares pela proteção do Brasil.Era notório no texto o alívio que a Igreja Católica passou a ter em saber que estava livre do perigo chamado comunismo.Alguns Bispos chegaram a ir a Petrópolis,cidade localizada no Estado do Rio de Janeiro,para abençoar as tropas de Mourão Filho,um dos generais que comandaram o Golpe.

A chegada dos militares ao poder representavam para o clero Brasileiro e a população conservadora que o Brasil finalmente estava seguro e assim haveria uma estabilidade no País.

Por: Vivian Fernandes Vidinhas

“Verdades” de 1964

Capa Jornal do Brasil de 1964
Os inúmeros caminhos que a História pode seguir mostram como ela é contada pelos vitoriosos, relutada pelos derrotados e estudada de maneiras diferentes por aqueles que tentam não pertencer a nenhum desses grupos. Como, então, saber se o que a escola ensina é a visão de apenas um desses grupos? Como uma pessoa pode perceber se está sendo influenciada?

Cada país já passou por momentos de agitação política, econômica, militar ou todos esses juntos. A formação de grupos bastante distintos na busca do poder é o que faz a história permanecer num eterno estágio de transformação. O Golpe Militar de 1964 no Brasil é uma dessas mudanças que abalam todo o sistema do país, como é de praxe nas ditaduras, e nos remete às perguntas do primeiro parágrafo. A começar pelo nome, pois existem dois: Golpe para uns, Revolução para outros. 

Para entender o que se passava no mundo no início da década de 60 é preciso voltar e lembrar a conjuntura da época, principalmente política. O mundo vivia os anos mais sombrios da Guerra Fria e o perigo de uma total destruição do planeta, graças à proliferação de armas nucleares pelo mundo. No Brasil, os grupos de direita e esquerda chegavam no limite de suas relações, fato que culminou na ditadura. Como dito no parágrafo anterior, há duas classificações para o sistema político usado de 1964 há 1985. Para os que apoiaram a ditadura, esta fase deveria ser conhecida como Revolução de 1964. A Igreja, a classe média, parte da imprensa, o empresariado e, lógico, os militares foram, no início, os grupos que apoiavam a instauração de um regime ditatorial para impedir a implantação de um possível sistema comunista no Brasil. Por isto, esses grupos consideram a ditadura como uma Revolução, pelo menos numa fase inicial.

Por outro lado, para outra parte da imprensa, esquerdistas e outros setores da sociedade, o que houve de fato foi um Golpe. O presidente João Goulart foi deposto e uma Junta Militar tomou posse do país nos primeiros meses do regime ditatorial. A principal desculpa para a tomada de poder era deter uma “ameaça comunista” que pairava sobre o Brasil naquela época. 

Fato é que esse “medo” era muito bem articulado pelos Estados Unidos para que os países da América do Sul não seguissem o mesmo caminho de Cuba. Neste caso, o comunismo transformou-se numa caça às bruxas, principalmente na América. Aparece, então, outra vertente da ditadura de 1964, que foi a participação norte-americana no Brasil. Os EUA não podiam arriscar perder como aliado o maior país da América Latina, tanto geografica quanto economicamente. O país acabou oferecendo grande apoio aos militares para que tomassem o poder, como na secreta “Operação Brother Sam” que visava suporte caso houvesse resistência de Jango. Além disso, a injeção financeira no Brasil ditatorial foi clara e teve como desfecho o “Milagre Econômico”. 

Manifestação de apoio à Ditadura
Há também falta de consenso em relação à data do Golpe/Revolução. Como dito antes no texto, os dois grupos eram muito dicotômicos em tudo aquilo que diziam. Assim, há também discussões sobre a data de início. Para os militares, a ditadura começou no dia 31 de março de 1964. Já para os contrários ao golpe, o regime começou no dia 1º de abril daquele ano. Um dia não muda nada, mas um significado muda tudo. 1º de abril é considerado o Dia da Mentira, o que não agradava em nada àqueles que estavam tomando o poder, mas significava muito para os perseguidos e/ou contrários a tudo aquilo que ocorria.

Por fim, deve-se salientar a enorme participação da sociedade brasileira para que a ditadura fosse imposta. Não que tenha permanecido nesta proporção até o fim, mas é clara a forma com que várias classes aderiram ao regime. Os militares praticaram o ato, mas vários outros se aproveitaram com o que ocorreu no Brasil, principalmente os meios de comunicação. A Igreja foi às ruas em apoio aos militares, estudantes foram presos, o prédio da UNE destruído, políticos depostos e o Brasil viveu por pouco mais de duas décadas sem poder se conduzir sozinho. Nisto não há dois lados da história, muito menos argumentos que contradizem esses fatos.

Por: Marcelo Stuart, Mariana Engelke e Felipe D'Oliveira

Está no ar... O Golpe e o Rádio de 64


Primeiro de abril de 1964. Muito bom dia pra você que sintonizou neste momento o seu radinho, não troque de estação, pois a partir de agora vamos mantê-lo muito bem informado sobre todas as notícias do Brasil e do mundo. A data de hoje para muitos é considerada apenas o Dia da mentira. Mas o que vamos contar no programa é a pura verdade. Começa agora a ditadura militar!

Se existissem, essas palavras também ficariam marcadas na vida de inúmeros brasileiros que vivenciaram aquela data e tinham o costume de acompanhar o noticiário através do rádio. Este primeiro de abril vai ficar na memória dos brasileiros mesmo depois dos 30 anos de censura. As 24 horas que estavam envolvidas na publicação de um jornal, na grade de televisão ou na programação das rádios seriam preenchidas a partir dali com espaços em branco, pausas, poesias, falta de informação e até receitas de cozinha. Os veículos de comunicação foram um dos principais alvos do novo regime.

A ditadura militar veio acompanhada da censura à imprensa. Jornalistas não podiam apurar a principal notícia do dia. As informações sobre os acontecimentos reais a cerca do golpe de 64 eram camufladas por censores que vetavam tudo e ditavam as normas do que seria revelado. No caso do rádio não foi diferente. Locutores tinham que lidar com a rotina de textos cortados e falas previamente manipuladas. A pauta do dia passava longe de prisões, torturas, desaparecimentos, perseguições e censura. Antes de ir ao ar, os sripts deveriam ser levados ao censor dos militares. Se na programação estivessem escaladas músicas de cunho ideológico, como as de Chico Buarque, elas eram retiradas da programação e a Rádio recebia uma advertência. Na teoria existiam regras do que deveria ou não ser vetado. Mas, na prática, os censores transformaram-se em pequenos ditadores locais, com força e arbítrio para deliberar e punir quem quisessem.

O clima de medo pairava nas redações e com as delações de opositores ao regime, muitos jornalistas também foram exilados e tiveram seus direitos políticos cassados. A situação chegou num ponto que ninguém mais sabia dizer ao certo se o seu vizinho ou amigo na verdade era um informante do governo.

Com implementação do Ato Institucional número 5 a repressão tornou-se ainda mais violenta, com a demissão de professores universitários, de funcionários públicos ou aposentados, prisão e tortura de líderes políticos e um fortalecimento da censura de todos os meios de comunicação, livros e espetáculos teatrais. Mas antes do AI 5 muita água rolou.

O DIA EM QUE O RÁDIO SE CALOU

Em São Paulo, as principais emissoras de rádio e televisão foram ocupadas pelos militares durante a madrugada do dia primeiro de abril de 1964. Naquela manhã, O Repórter Esso, por exemplo, não pôde falar aos seus ouvintes que estavam assustados com todas a movimentação de soldados e tanques de guerra pelas ruas do país e ansiavam por notícias dos primeiros instantes do golpe militar.

A primeira edição radiofônica do Repórter Esso, às oito em ponto, passou em branco diante daquelas tumultuadas horas. O locutor Fábbio Perez foi barrado logo na entrada do estúdio por um oficial do Exército, justificando que a Revolução tinha se consumado, e tudo estava sob censura. Justamente na hora em que tudo estava acontecendo, ninguém sabia de nada.

Em Minas Gerais, a Rádio Itatiaia fez uma entrevista antecipando a proximidade do golpe. No dia 30 de março de 1964, o general Guedes, comandante da unidade federal sediada em Belo Horizonte, repassou aos ouvintes a certeza de que a revolução ocorreria. Em outra ocasião, a Itatiaia noticiou uma matéria extraída da agência JB que, na época, era respeitada como fonte segura. A censura não deixou por menos e vetou. A JB acabou demitindo todo mundo.

No jornal eram publicadas poesias, receitas de bolo e outros absurdos nos lugares das notícias censuradas. Já o rádio e a televisão estavam sob censura total. Oficiais militares acompanhavam a leitura no estúdio para verificar se não havia inclusões ou supressões de palavra, e mesmo alguma entonação inadequada durante os programas. Eles atendiam por agentes de censura.

Um importante passo da ditadura no controle dos cidadãos foi criado em junho de 64, o SNI - Serviço Nacional de informações, cujo principal objetivo era coletar e analisar informações pertinentes à segurança nacional, à contra-informação e à informação sobre questões de subversão interna. Temas a serem publicados ou levados ao ar eram selecionados contando com o apoio de uma equipe de jornalistas, psicólogos e sociólogos.


Com toda a situação imposta aos meios de comunicação brasileiros, além da auto-censura praticada pelas entidades que apoiaram o regime militar, a única fonte confiável de informação que restava era o noticiário e editoriais políticos transmitidos pelo rádio de ondas curtas dos outros países direta ou indiretamente envolvidos nos acontecimentos.

NAS ONDAS DOS ESTRANGEIROS 

A Rádio Central de Moscou, fazia contraponto a então Rádio Voz da América, na polarização "Socialismo x Capitalismo", ou "Comunismo x Imperialismo". A BBC de Londres que investia fortemente em programas em português para o Brasil, trazia informações até então isentas da propaganda militar dos golpistas de 1964. Outras emissoras do Leste Europeu além da Rádio Tirana, como a Rádio Bulgária, transmitiam para o Brasil e participaram ativamente na formação ideológica de uma pequena parcela culta da população, que a busca de informações sobre o próprio país.

Como as emissões de ondas curtas não podiam ser censuradas pelo regime militar, e principalmente, seus ouvintes não podiam ser rastreados e nem identificados, o rádio de ondas curtas e as emissoras internacionais representavam muitas vezes a única fonte de informação.

Os noticiários do Brasil quase não veiculavam notícias sobre a Guerrilha do Araguaia, uma das mais expressivas reações armadas contra o regime militar, que foi organizada pelo Partido Comunista do Brasil, no sul do Pará.


Com todas as rádios do país e os demais meios de comunicação sob censura, as rádios paraenses mantinham-se informadas sobre a guerrilha, que se passava em território paraense, através da Rádio Tirana, da Albânia. Os militares censuravam toda informação que pudesse passar a ideia de que os guerrilheiros estavam bem organizados e armados. Como os guerrilheiros assaltavam bancos para comprar armas, a imprensa não podia noticiar assaltos a bancos. Depois, essas notícias foram liberadas, mas com uma condição: que não fosse divulgada a quantidade de dinheiro roubada. 

Os poucos repórteres do rádio que ousaram ir contra as ordens militares foram presos. Entre eles, Joaquim Antunes e Paulo Ronaldo. O primeiro foi preso por ter denunciado, durante o seu programa Banco de Praça, na Rádio Difusora, que haviam dado aumento salarial para os militares e não para os civis. Ele entrou novamente em conflito com o governo militar, quando saiu em defesa de um amigo em seu programa. Para não ser preso mais uma vez, Antunes teve que se retratar publicamente

Depois a censura de presença física deu lugar à censura através do telefone com a proibição de determinados assuntos. Esse procedimento se estabeleceu durante todo o regime militar. Os pronunciamentos só estavam liberados para o novo presidente Castelo Branco, e autoridades do governo.

NOTÍCIAS QUE NÃO FORAM AO AR PELO REPÓRTER ESSO

“O Palácio da Guanabara informou hoje às três horas da madrugada, que fuzileiros navais se postaram ante aquele Palácio, que está sendo custodiado por forças da Polícia Militar do Estado. Acrescenta que os fuzileiros se limitaram a tomar posições ante o Palácio.”

“O Governador Adhemar de Barros expediu ordens para requisição de todos os depósitos de óleo combustível e de gasolina existentes no estado. Determinou também a imediata ocupação da Baixada Santista por contingentes da Força Pública.”

RELATOS DE UM RADIALISTA - José Carlos Araújo

Em abril de 64 José Carlos Araújo era locutor comercial da Rádio Eldorado e também fazia algumas pontas de esporte na Rádio Globo, onde mais tarde foi contratado para ser repórter e locutor. Garotinho, como é conhecido, relembra sua história e fala que a Revolução aconteceu mesmo no dia primeiro daquele mês, diferentemente do que muitos militares dizem - que foi no dia 31 de março, porque o dia primeiro é considerado o dia da mentira.


Ele saía da Rádio Eldorado a caminho do ônibus para ir para o seu segundo emprego quando a notícia veio. Aquele, por incrível que pareça, era o dia em que Garotinho faria sua primeira participação como repórter da Rádio Globo como plantonista esportivo, dessa vez com carteira assinada. Na data, Fluminense e Bangu se enfrentariam no Maracanã com a narração de José Cabral, conhecido como o Moço da Maricota. Zé Carlos conta que foi para a Rua Irineu Marinho, onde ficava a Rádio, para aguardar a saída da equipe de transmissão. Pois bem. Fluminense e Bangu se enfrentariam se não fosse cancelada toda a rodada do Campeonato Carioca. Foi o que aconteceu. “Não vai haver futebol por causa da revolução”. Quando o locutor chegou na Rua Irineu Marinho, deu de cara com um carro de Fuzileiros Navais, onde havia uma tropa de choque invadindo o prédio do Globo. Com o susto, Garotinho andou pelos cantos até pegar o elevador que dava acesso à rádio. E ficou aguardando. 

Pela janela da Presidente Vargas na Rádio Eldorado ele observava as repartições dispensando seus funcionários, todos indo pra casa. Na Irineu Marinho não dava pra ver, não tinha uma visão do que se passava pela cidade. O que ele viu foi que os fuzileiros entraram justamente para impedir a edição do Jornal o Globo já que a censura passou a ser muito forte a partir dali. E dali houve uma transformação inteiramente no Rádio. 

Enquanto isso, no Sul, Leonel Brizola, na Mairink Veiga, defendia a permanência do João Goular e não o Golpe militar que afastou o então presidente da República. O Leonel comandava a Cadeia Farroupilha através da Rádio Farroupilha de Porto alegre, e as notícias eras essas segundo José Carlos Araújo: “As tropas do segundo exercito estão se deslocando pela BR 040 de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro. 

O noticiário era muito assustador., relembra ele. A partir daquele momento as informações passaram a ser censuradas e Gotinho, com 23 anos na época, acompanhou todo o período da ditadura militar. As censuras nas redações de rádio, jornal , e tv chegavam ao ponto de fazer com que os principais jornais como a Tribuna da Imprensa, o Jornal do Brasil, e a Ultima Hora estamparem espaços em branco na primeira página e receitas de bolo. Mas na época existiam jornais clandestinos também e foram surgindo ainda outros jornais como o jornal Pasquim, que noticiava com muito humor os acontecimentos. 

No Pasquim Garotinho escreveu durante um ano na década de 80, onde ainda existia a censura. A linguagem de comunicação era cifrada. Ele conta que o movimento universitário era muito forte e muito comum. Nos shows de finais de semana e campos universitários havia penetração do censor para denunciar quem estava cantando, por exemplo. Ninguém sabia para onde você era levado. Garotinho tinha terminado a faculdade naquela época e passado num concurso para professor de estado. O primeiro de abril ficou marcado em sua vida exatamente por essa transformação social e política do Brasil e da imprensa e em sua vida profissional.

Todo mundo que era universitário era engajado na política e Garotinho não se lembra de nenhum colega na época que se dizia de direita. A sua família toda era de esquerda, ele teve primos e tio cassados, pessoas de movimento sindical, ferroviário, de Petrobrás, Engenheiro, Médico, todos atemorizados. Ele era engajado mas tinha pouco tempo, pois trabalhava como professor em 2 colégios, na redação da Rádio Globo como ainda estava entrando para o Jornal o Dia como repórter. O tempo que podia dedicar aos movimentos nos diretórios estudantis era mínimo. 

O locutor também tinha uma responsabilidade muito grande de manter a família. Ele já sustentava os familiares e não podia correr o risco de perder o emprego. Para ele o mais triste é que dentro das redações havia sempre um censor e antes de um jornal ir para a rotativa era preciso passar por um censor. Antes de um Jornal Nacional ir pra a TV Globo, passava por um censor. No rádio isso era mais suave, segundo José Carlos, porque Roberto Marinho que era tido como homem reacionário abrigou muitos profissionais que eram perseguidos pela ditadura. Quando ele era pressionado pela ditadura, ele dizia assim: vocês cuidam dos seus comunistas, eu cuido dos meus. 

Naquela época um religioso que era apontado como aliado da ditadura militar, Dom Eugênio Sales, alagoano, foi cardeal arcebispo do Rio, abrigou muitos comunistas. E só depois de muitos anos chegaram a essa informação. Até então achavam que ela era informante da ditadura, protetor da linha de direita reacionária. Tudo isso são lembranças daquele primeiro de abril para José Carlos Araújo, o verdadeiro Garotinho, como é chamado.

Hoje ele apoia todas as manifestações de ruas e acredita que isso não vai induzir militares a repetir esse erro da ditadura. Mas quando vê os black blocks, tem a sensação de que estão defendendo os interesses de uma intervenção militar dentro de um regime democrático que é o melhor regime do mundo. 

EXTRA - ENTREVISTA COM JOSÉ CARLOS ARAÚJO

PARTE 1


PARTE 2


Por: Kelly Junqueira Dias Coli

O comício da Central do Brasil

Dia 13 de março de 1964, Central do Brasil. Cento e cinquenta mil brasileiros esperançosos, eufóricos, estavam lá, esperando as palavras do então presidente João Goulart, do deputado Leonel Brizola, do governador Miguel Arraes e do secretário geral do PCB Luis Carlos Prestes. Eram muitos integrantes de entidades sindicais, diversas organizações de trabalhadores da cidade e do campo, servidores públicos civis e militares, estudantes e demais camadas populares. Todos a favor das chamadas mudanças da nação: a reforma da base e a defesa das liberdades sindicais e democráticas.

A Central do Brasil estava tomada pela população, como nunca havia acontecido na história do país. A concentração humana passava pelas pistas da Avenida Presidente Vargas, e até as imediações da entrada do Túnel João Ricardo.

FAIXAS E CARTAZES

Brasileiros motivados pelo desejo de mudança levavam faixas como: “Reconhecimento da China Popular”, ”Viva o PCB”, “Emcapação de Capuava”, “Abaixo com as companhias estrangeiras”, “Brizola 65”, “Jango- Defenderemos as Reformas a Bala”.

Faixas estendidas pelo povo, em meio aos militares
Também estavam por lá os militares, prontos para ouvir as declarações dos nossos representantes, para logo depois, no dia 1 de abril, instalarem o Golpe.

Houve um princípio de confusão na Praça Cristiano, sem grandes alardes, até uma faixa pegar fogo, ferindo mais de 140 pessoas. Além disso, uma bomba que explodiu um pouco antes de ser iniciado o comício, deixando sete feridos.

DISCURSOS

Às 19:40, na hora de subir ao palco, Jango ouviu atentamente o discurso do então deputado Doutel de Andrade, que parecia estar nervoso e decidido com todas as frases imperativas que lançava ao público. Uma crítica ao capitalismo, e o total apoio para o presidente e os trabalhadores.

João Goulart discursa durante o comício

Enfim, às 20:00 horas, começa o discurso do presidente. Nele, com total autoridade e seguro do que estava falando, assinava dois decretos: o decreto da Supra (Superitendência da Reforma Agrária), que desapropriava todas as propriedades de mais de 100 hectares localizadas em uma faixa de 10 km à margem de ferrovias e rodovias federais, e o decreto das refinarias, que tornavam nacionalizadas todas as refinarias particulares de petróleo. Ao final, Jango reafirmou o seu posicionamento pela polícia democrática no país. Abaixo, pode-se conferir trechos importantes desse discurso:

“ Essa Constituição é antiquada, porque legaliza uma estrutura sócio-econômica já superada, injusta e desumana; o povo quer que se amplie a democracia e que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a todos; que a todos seja facultado participar da vida política através do voto, podendo votar e ser votado; que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e seja assegurada a representação de todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminações religiosas ou ideológicas. (...) São certamente, trabalhadores, os piores surdos e os piores cegos, porque poderão, com tanta surdez e tanta cegueira, ser os responsáveis perante a História pelo sangue brasileiro que possa vir a ser derramado, ao pretenderem levantar obstáculos ao progresso do Brasil e à felicidade de seu povo brasileiro. (...) A partir de hoje, trabalhadores brasileiros, a partir deste instante, as refinarias de Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazonas, e Destilaria Rio Grandense passam a pertencer ao povo, passam a pertencer ao patrimônio nacional. (...) Hoje, com o alto testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence, reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil. “ 

Quando chegou a hora do seu discurso, Leonel Brizola, num tom de rebeldia, defendia e elogiava as atitudes tomadas pelo presidente Jango. Brizola, que sempre foi um grande aliado do nacionalismo esquerdista, garantiu que um governo que traz benefícios e que ouve as vozes do povo, terá de ser democrático e popular. Em seus olhos, podia-se perceber tremores de medo e de luta. Medo, dos seus “compatriotas” oposicionistas e conservadores, tomarem um Golpe, e luta, por posicionar-se pronto para ser contra e não permitir que o mesmo fosse realizado.

Brizola

Os rumores e tensões do Golpe Militar já rondavam os gabinetes da República, e vários infiltrados dos principais Estados, como Minas Gerais e São Paulo, estavam com os ouvidos no Comício, para pegar um gancho que fosse, e mediocrizar as palavras ditas pelos representantes, semeando o espaço para o Golpe ser concretizado.

“A partir destes dois atos – assinatura do decreto da SUPRA e do que encampa as refinarias particulares – desencadear-se-á, por esse país, a violência. Devemos, pois, organizar-nos para defendermos nossos direitos. Não aceitaremos qualquer golpe, venha ele de onde vier. O problema é de mais liberdade para o povo, pois quanto mais liberdade o povo tiver maior supremacia exercerá sobre as minorias dominantes e reacionárias que se associaram ao processo de espoliação de nosso país. O nosso caminho é pacífico, mas saberemos responder à violência com a violência. O nosso presidente que se decida a caminhar conosco e terá o povo ao seu lado. Quem tem o povo ao seu lado nada tem a temer. “ disse Brizola no fim de seu discurso.

REPERCUSSÃO

Para a população presente, o comício só teve respostas motivadoras e do que realmente se esperava. Uma verdadeira festa popular. Todas as manchetes dos jornais, nos dias seguintes, estampavam o discurso de Jango e seus decretos, como mostradas abaixo:

Capa do jornal Ultima hora do dia 14 de março de 1964
  • Pedido De Emenda À Constituição Tem Fins Continuístas 
  • Pregação Contra O Congresso Provoca A Reação Parlamentar 
  • Atmosfera Revolucionária No Ato Da Encampação E Desapropriação “(Tribuna da Imprensa) 
  • Estado Toma Conta De Refinarias E Vai A Latifúndios 
  • Constituição Não Serve Mais “ (Diário de Notícias)
Capa do Jornal do Brasil do dia 14 de março de 1964

  • Treze Oradores Falaram No Comício Das Reformas “ (O Globo) 
  • No Comício De Ontem Na Central Do Brasil O Presidente Formula O Seu Programa: Progresso Com Justiça e Desenvolvimento Com Igualdade (A Noite) 
  • Pacto Do Povo Com Jango: Reformas A Qualquer Preço “(Diário Carioca)
ACUSAÇÕES À JANGO

Apesar de tamanha repercursão positiva, o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, membro do partido extinto UDN, julgou o Comício, alegando que se tratava de um assalto à Constituição, ao bolso e à honra do povo. Acusou Jango de ser uma pessoa fora do controle, que vai além do seu poder como presidente, e que já não sabe mais o que fala nem o que faz.

Juntando as declarações feitas por Lacerda, membros da oposição, já preparados para o Golpe que iria se instalar dias depois, consideraram os discursos daquela noite violentíssimos. E de imediato, conseguiram convencer a população através dos seus gritos, que faziam coro, principalmente das camadas conservadoras , oposicionistas, civis e militares. – “Impeachment de João Goulart! Ele é comunista!” Os pés já prontos para aquilo que havia de chegar, do mais perigoso e ditador, que se chamara Golpe Militar.



Por: Livia Briani, Tatiana Araújo e Vitor Boghossian

AI-5: permissão para calar

O impacto do ato nas redações

Apesar de o golpe ter sido dado na madrugada de primeiro de abril – não, não é piada – de 1964, as redações não sofreram mudanças significativas em suas rotinas editoriais. É óbvio que havia a intervenção do governo militar, mas ainda era algo esparso, sutil. Muitas vezes,  através de telefonemas aos proprietários dos jornais, em que as autoridades sugeriam recomendações ou se queixavam de determinadas matérias. Entretanto, com o decreto do ato institucional número cinco, por Costa e Silva, no dia 13 de dezembro de 1968, as coisas mudariam radicalmente.


Com a suspensão das garantias constitucionais, o Congresso Nacional foi fechado e a censura prévia à imprensa foi instituída, além de prisões em massa de parlamentares oposicionistas, líderes estudantis e sindicais, intelectuais e artistas. Com a vigência do AI-5, jornalistas e donos de jornais sentiram a violência da censura policial.

A consolidação da censura prévia à imprensa veio no decreto-lei n° 1.077, de 26 de janeiro de 1970, no qual o general-presidente Médici advertia que publicações contrárias ao regime, à moral e aos bons costumes, em quaisquer meios de comunicação, não seriam toleradas.

A liberdade de expressão e as possibilidades de divulgação de certas informações julgadas inadequadas, suspeitas ou subversivas pelo regime foram restringidas de maneira dramática pelos censores da Polícia Federal . As redações recebiam comunicados da PF informando quais temas ou acontecimentos não deveriam ser noticiados, ou mostravam qual o tom a ser dado. Sob pena de punições, como abertura de processos judiciais e ameaças de suspensões de circulação, e represálias, que incluíam, por exemplo, corte de verbas publicitárias do governo federal, os jornais seguiam as instruções à risca. 

O censor mora ao lado: o convivio

Se em muitos casos era incômodo em ter o censor fisicamente presente na redação, em outros, a presença do policial “ajudava”. Alguns jornalistas relembram que, em determinadas situações, a proximidade física com os agentes ajudava os repórteres a perceber os critérios usados no corte de matérias e o modo de atuação dos censores. É dito que os censores costumavam ler apenas o início da matéria, o lide. Afinal ali era onde se encontravam as informações mais importantes. Na teoria, é claro. Malandramente, alguns profissionais passaram a escrever ao contrário, contando besteiras no começo e deixando o mais importante para o final.


O Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro durante o último governo militar, do general Figueiredo, José Carlos Monteiro lembra que, embora os anos de chumbo tenham sido críticos para toda a imprensa, havia condições diferentes de trabalho e coação em cada veículo. Ele ressalta que, no jornal O Globo, onde foi um dos editores do noticiário internacional, “foram tempos duros, tenebrosos” de 1968 em diante. “O clima na redação era sufocante. Apesar de Roberto Marinho ter apoiado, desde o começo, o movimento golpista, o jornal não escapou da censura”. 

Por: Cristiane Viamonte, Marlon Carrero e Pedro Lopes

À Margem do Golpe de 64

Há 50 anos, qual era o cenário mundial?

O ano de 1964 ficou marcado no Brasil pela chegada ao poder dos militares encerrando o governo do então presidente João Goulart. Foi o fim do da do regime democrático e o início de longos anos sob a ditadura militar. Foi evidentemente, um acontecimento de extrema relevância para a história do país e que afetou profundamente toda a sociedade, sua marca ficou cravada na história.

Esse fato, devido o seu grau de importância, ofuscou os demais eventos daquela época e, em especial, daquele ano. Pessoas não sabem profundamente o que acontecia paralelamente ao regime. A partir deste déficit de conhecimento na história brasileira, será apresentado um cenário do mundo esportivo e cultural da época para que os mesmos jamais caiam no esquecimento.

O panorama mundial era conturbado no período em questão. O cenário era pautado pela Guerra Fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética. A efetiva Guerra do Vietnã estava em curso. O presidente americano John F. Kennedy tinha acabado de ser assassinado. Em função das guerras foi, também, um período de grande avanço tecnológico. A corrida espacial foi o principal exemplo e estava a pleno vapor durante a década de 60. Em solo nacional, a época de grande avanço, que começou com Juscelino Kubitschek, já havia findado e a economia estava estagnada, recessiva, além de haver hiperinflação (esses fatos contribuíram diretamente para a queda de Jango).

A música estava começando a revolucionar o comportamento da nova geração com o Rock and Roll e grupos como Beatles e Rolling Stones. Dessa revolução originou-se a contracultura Hippie, a qual criticava o uso de armas nucleares, pregando pelas questões ambientais, a prática de nudismo e a emancipação sexual. Sua célebre máxima era "paz e amor". O Brasil vivia a época da Bossa Nova que já convergia para a MPB e contava com grandes nomes como: Vinicius de Moraes, Wilson Simonal, Tom Jobim, João Gilberto, dentre outros.

Nos esportes, o lendário Muhammad Ali, na época Cassius Clay, conquistava o título mundial de boxe na categoria dos pesos pesados. A seleção canarinho já era a principal potência. Bicampeã mundial, começava a se preparar para a disputa do tri, dois anos depois na Inglaterra, onde viria a fracassar. Era o auge do Santos de Pelé. Bicampeão mundial de clubes (62 e 63) e tetracampeão da Taça Brasil (61-64). Foi ano das Olimpíadas de Tóquio, onde o Brasil não brilhou, conquistando apenas uma medalha de bronze (com o basquete masculino), em um evento sem maiores destaques.


Quadro de Medalhas da Olimpíada de Tóquio. Brasil ganhou apenas um Bronze
Maria Esther Bueno, que foi uma das principais tenistas de todos os tempos vivia seu auge sendo campeã do US Open e de Wimbledon e vice-campeã de Rolland Garros. Em toda sua carreira, Bueno colecionou 71 títulos, sendo 18 de Grand Slams, entre simples e duplas. O povo brasileiro podia se orgulhar, também, do nosso basquete masculino que conquistara, um ano antes, o bicampeonato mundial da modalidade em torneio disputado no Rio de Janeiro.

Wlamir Marques era um dos destaques da equipe brasileira de basquete


Os Jornais disseram sim: O apoio jornalístico ao Golpe de 1964

Durante o governo de João Goulart, também conhecido como “Jango”, a grande imprensa foi a maior precursora das ideias que acabaram por ser fundamentais na derrubada do presidente.
 O que começou com o apoio à ascensão do governo Goulart, sob o compromisso de um regime parlamentarista, rapidamente foi alterado pela iminente ameaça de golpe comunista, devido a radicalização das medidas governamentais tomadas pelo presidente, principalmente após as reformas de base propostas pelo presidente no Comício da Central em 13 de março de 1964.

 De acordo com o artigo da socióloga Alzira Alves de Abreu para a Fundação Getúlio Vargas, poucos jornais ficaram ao lado do governo, como “A Última Hora”, que possuía um maior apelo entre estudantes e o meio sindical,  além do “Diário Carioca”. As outras grandes empresas jornalísticas começaram a atacar o governo vigente, demonizando cada vez mais o comunismo, além de propagar um suposto caos administrativo e defender que uma intervenção militar era extremamente necessária para a ordem ser instaurada no país.  


Intitulado de “Rede da Democracia”, um inédito arranjo midiático encabeçado e posto em prática por três das maiores empresas jornalísticas daquele período – Diários Associados, Globo e Jornal do Brasil –, foram responsáveis por uma campanha incisiva e conjunta em favor da destituição do Governo Goulart.
 Uma das maiores evidências desse favorecimento foram os famosos editoriais do jornal “Correio da Manhã”,  o “Basta”, publicado em 31 de março de 1964, e o “Fora”, em 10 de abril de 1964, onde explicitavam o descontentamento com o governo vigente e o crescente isolamento político de João Goulart.

Foto: Arquivo Fundação Getúlio Vargas
O Globo se retrata após anos de silêncio

Apesar do assunto ser considerado uma espécie de tabu na imprensa brasileira, o jornal “O Globo” publicou um editorial no dia 31 de agosto de 2013,  retratando-se publicamente sobre o apoio, no qual referiu-se como “um erro histórico”.

Rechaçados devido as manifestações que ocorreram frequentemente durante esse período, quando grande parte do público gritava lemas como “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”, o jornal afirmou que a lembrança do acontecimento ainda é um incômodo interno na empresa, e fez questão de ressaltar que, não apenas eles, mas as principais mídias do país na época também colaboraram com o golpe, além de contar com o apoio de parcela da população que se manifestavam em diversas capitais do país.

Foto: Viomundo.com.br
O jornal, além de reconhecer, em suas próprias palavras, que o apoio foi um erro, mencionou o editorial escrito por Roberto Marinho, no dia 7 de outubro de 1974, às vésperas do fim da ditadura no país. O texto exaltava, não apenas conquistas econômicas e políticas adquiridas durante a época do governo militar no 
Brasil, mas também a própria participação do grupo no golpe. 

Apesar disso, o editorial fez questão de lembrar que o fundador sempre se posicionou com firmeza contra a perseguição a jornalistas de esquerda, assim como fez questão de abrigar muitos deles na redação do jornal durante o período de repressão.



Por: Cristiane Viamonte, Marlon Carrero e Pedro Lopes

Mulheres de 64: Fundamentais para o golpe

Nos anos 60 uma nova história foi escrita em relação a participação da mulher dentro da política e da sociedade. Foi a década da quebra de tabus, da liberação sexual e da emancipação da mulher.

Apesar de marcar uma revolução sexual e de costumes em todo o mundo, entre as classes médias e altas do Brasil o ideal da mulher ainda era conservador. Caberiam a elas as ocupações femininas tradicionais, cuidar da casa, de seu marido, e zelar pela educação e valores da família. Ao se tornar responsável pela condução moral, espiritual, e física do lar, ela também deveria defender essa visão de mundo, o que na época temia estar ameaçada pelo “perigo comunista”.

Esse "conservadorismo" caminhava ao lado do comunismo, à direita e a esquerda em meio a Guerra Fria. O presidente da época, João Goulart, o Jango, era considerado comunista. Quando foi chamado para assumir seu posto após Jânio Quadros renunciar seu mandato, Jango estava em viagem diplomática na China. Seu governo tinha como objetivo econômico as reformas de base. Ele achava que somente assim a economia cresceria e diminuiria as diferenças sociais.

A ideia de que o comunismo representava o fim de tudo aquilo que a dona de casa deveria proteger: a família, a religião e a propriedade. Assim, como se a nação fosse uma extensão de seu próprio lar, as mulheres da elite conservadora se deslocam para o espaço público, para defender seus valores. Existia principalmente um elemento religioso dentro disso, já que a Igreja Católica se sentia profundamente ameaçada pelo comunismo ateu.

Mulheres Do Golpe, Marcha Da Família Pela Liberdade
O dia 13 de março de 1964 foi o estopim para a explosão da luta das mulheres conservadoras e Jango. Aconteceu o Comício da Central, onde Jango apresentou as reformas com a presença de sindicatos e trabalhadores.



Após o comício surgiram marchas e manifestações contra Jango, formadas principalmente pela igreja e entidades conservadoras, formada, em sua maioria, por mulheres. A participação delas foi determinante para que o governo de Jango fosse derrubado e a ditadura entrasse em vigor.

Mulheres da sociedade conservadora, classe média, católicas e mães de família reuniam-se em movimentos financiados pelo IPES (Institutos de Pesquisas e Estudos Sociais) e pelo IBAD (Instituto Brasileiro de Ação pela Democracia). Esses movimentos aconteciam a todo instante em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e formaram organizações como a União Cívica Feminina (UCF), a Campanha da Mulher pela Democracia (Camde) e a Liga da Mulher Democrata (Limde). 

As mulheres saiam pelas ruas das cidades com terços nas mãos em luta a favor dos militares e da sociedade conservadora, contra o comunismo que acreditavam existir no governo de Jango. Instruídas, passavam a diante o que aprendiam contra o comunismo para amigas, comunidade e empregados. O Limde, a UCF e a Camde patrocinavam também participações em programas de rádio e distribuição de panfletos em favor do movimento.

Deu início às Marchas da Família com Deus pela Liberdade. A primeira aconteceu em São Paulo e abriu caminho para que outras fossem realizadas em todo país, lideradas por mulheres que carregavam cartazes com dizeres como "vermelho bom, só o batom", e carregavam terços. A maior de todas as marchas aconteceu no dia 2 de abril de 1964, que passou a se chamar Marcha da Vitória por ter acontecido após o a derrubada do governo de Jango e o início do controle dos militares. Reuniu de 1 milhão de pessoas nas ruas do Rio de Janeiro.


Marcha da Família com Deus pela Liberdade, Jornal do Brasil

Após isso, as mulheres que tanto trabalharam à favor dos militares perderam sua função. Perderam a tranquilidade de ir e vir pelas ruas como nos tempos de manifestação e se tornaram as mesmas mulheres que choravam em buscas dos filhos que desapareceram em ações políticas e foram mortos ou nunca mais foram encontrados.

Após a renúncia de Jango e a tomada do poder pelos militares, a mulher perdeu sua função em meio a toda manifestação. Aquelas mesmas mulheres que antes iam as ruas lutar contra o comunismo e a favor dos militares e da sociedade agora eram as mulheres que choravam por filhos sumidos e até mortos durante a ditadura. AS mesmas mulheres que antes iam as ruas em manifestações e lutar por uma causa agora perderam seu direito de ir e vir e sua voz ativa. Perderam sua função. Com isso, surgiu um novo papel da mulher nessa sociedade: a mulher militante. As mulheres passaram a lutar contra os militares, junto aos homens, sem diferenças e distinção entre o sexo.

Passaram a fazer parte da oposição e dos grupos de luta armada. Sofreram violência, tortura e muitas morreram. Participavam de assaltos, se disfarçavam e enfrentavam o governo da época. Um exemplo dessas mulheres da luta armada em 64 é a presidenta Dilma Roussef. Dilma foi integrante de grupos terroristas que tinham como objetivo derrubar os militares e implantar um governo socialista no país, nos moldes do governo de Fidel Castro. A maior parte destas mulheres, que sobreviveram, hoje são sociólogas, jornalistas, economistas e, alguns, estão na militância política, como Dilma.

Presidente Dilma Rousseff presa durante a ditadura


Por: Carolina Danner e Patrícia Ricci